Tô Pensando em contos... O Manicure




O MANICURE





     Vivian, 22 anos, sobrinha do Zé, veio da Bahia tentar a vida em São Paulo. Ela está a espera da dona de um salão de beleza para sua primeira entrevista de emprego.

     Nossa jovem apimentada sempre foi manicure pois, ama cuidar das mãos das pessoas, mas ela mesma não é uma boa referência de beleza e cuidado, ao contrário de seu tio Zé, que toda semana trata ele mesmo das mãos e dos pés com esmero. Vivian tem o mau habito de roer as unhas, tanto que as vezes o sangue pinga de seus dedos. Baixinha e atrarracada, como uma chaleirinha da vovó, mantém sempre o sorriso largo da espontaneidade nordestina.

     Depois de algumas horas de espera, a dona do salão resolveu aparecer para conversar com Vivian. 

     Antes mesmo de comprimentá-la, já foi imaginando o que teria que fazer com aquele cabelo longo,   maltratado e sem estilo, e ainda teria que encomendar um novo conjunto de uniforme para aquela garota com cara de chaleira, mas quando apertou a mão de Vivian e viu suas mãos, logo pediu desculpas e disse que a vaga já estava preenchida.

     A moça triste caminhou para a casa do tio Zé, onde estava hospedada, infeliz e sem ânimo foi entrando em casa e sentando no banquinho do quintal, ao lado do tio que fazia as unhas novamente.

     - Tio, o senhor não quer que eu faça para o senhor?

     - Que é isso, vou explorar você não Vivia, além do que eu já tenho quase setenta anos e não vô fica me entregando a veieira ou a doença.

     - Tudo bem meu tio, precisando, tô aqui.

     Vivian já ia saindo quando o tio chamou de volta... – Vivia, você tá bem? Tá com saudade de casa?

     - Até tenho um pouco de saudade, mas acho que é mais por não ter emprego ainda... e ainda acho que é porque não me cuido muito bem...

     - Tá falando de roer as unha? Senta logo aqui e fica aí! Para de sentir pena de ocê mesma e presta atenção...

     Seu Zé saiu e voltou rápido como um preá, um bule com água quente, vários cremes, toalha, uma caixinha cheia de coisas chacoalhando e uma touca plástica.

     Já foi colocando as mãos e os pés de Vivian na bacia com água e um outro líquido fedido que ardia os dedos roídos da moça, enquanto isso foi esfregando sua cabeça com outro líquido verde e estranho, lavou e esfregou aquela cabeleira até ficar dolorida, bezuntou o cabelo com um creme de três cores e cheiro de doce amarrando o cabelo com a touca plástica. Seu Zé, baiano expressivo e expansivo, se concentrou nos pés e nas mãos da sobrinha, esfregando, cortando, lixando, limpando... 

     – Está prestando atenção em tudo que tô fazendo Vivia?

     - Tô meu tio, mas eu sei ser manicure e

     - E nada! Tem que aprender a cuidar de você mesma! Depois que eu terminar, ocê vai ficar um brinco, depois é só continuar.

     Depois que Seu Zé terminou, realmente Vivian ficou um “brinco”, um pouco dolorida, mas bem melhor apresentável. Vivian foi se trocar e o tio Zé falava alto com a filha de novo, pois o café tinha acabado, mesmo que ela tenha acabado de chegar, Vivian sempre ria dessas coisas, tio Zé e a filha sempre falavam alto, mas era só amor.

     Vivian tem o sonho de fazer faculdade, mas sem uma renda, não vai conseguir. Andou um pouco pelo bairro e encontrou mais três salões de beleza, agora ela tem mais três propostas de emprego.























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5 comentários

  1. Hoje o conto que não é um conto.
    Mas sim, um alerta.
    A gente se amar, se cuidar...teria meio que ser obrigação. Não somente para "arrumar trabalho",mas para nos amarmos.
    Gostei muito!E que apareçam mais "tio Zé" na vida de todos nós!
    Beijo

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  2. Oi, Renata!!
    Gostei muito do conto, e realmente temos que cuidar mais de nós mesmos, pois como tio Zé falou no conto para não se entregar a "veieira ou a doença".
    Bjos

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  3. Gostei do conto. Vivian é como algumas mulheres que não ligam para a aparência. Uma pessoa que não se cuida, como irá cuidar dos outros? Aparência de certa forma é um cartão de entrada para muitas coisas.

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  4. melhor analogia não há, as vezes precisamos tirar as cuticulas em excesso, lixar arestas, dar uma camada de brilho em nós mesmos
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  5. Renata!
    Infelizmente vivemos no mundo de aparências, né? Principalmente nessa área de beleza. Se não tiver dentro dos padrões, difícil arrumar emprego. Ainda bem que Tio Zé deu um trato em Vivian...
    Desejo uma semana de muita luz e paz!
    “Para cultivar a sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias. Sem elas, nossa vida se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade.” (Dalai Lama)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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